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Mostrando postagens de dezembro, 2025

O “Boicote”

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  Boicote às Havaianas revela fragilidade estratégica do bolsonarismo, analisa José Geraldo de Sousa Jr. Para o professor da UnB, tentativas de cancelamento contra marcas famosas costumam gerar o "efeito reverso", transformando o ataque em propaganda gratuita e despertando o desejo de consumo no público. Destaques da análise: • O Efeito Bumerangue: José Geraldo compara o caso a boicotes históricos contra Coca-Cola e McDonald’s. Segundo ele, o movimento ativa gatilhos psicológicos que aumentam a visibilidade do produto, atingindo até quem não compreende a motivação política da ação. • Coesão pelo Conflito: Após derrotas políticas e jurídicas, o bolsonarismo utiliza esses ataques para manter a base mobilizada. "É uma tentativa de criar coesão interna através do afeto e do ódio, mesmo que desconectada da realidade", afirma o professor. • Inimigos Imaginários: A reação à campanha com Fernanda Torres é vista como uma simplificação grosseira do debate. Para Geraldo, ao ro...

Recalculando a rota

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A inteligência artificial apresenta oportunidades deslumbrantes para as crianças, mas também riscos preocupantes. Pode ser que as meias de Natal contenham mais surpresas do que o NATAL de costume neste ano, já que as crianças abrem presentes que podem responder. Fabricantes de brinquedos na China declararam 2025 como o ano da inteligência artificial (IA) e estão produzindo robôs e ursos de pelúcia que podem ensinar, brincar e contar histórias. Crianças mais velhas, por sua vez, estão vidradas em vídeos virais de IA e jogos aprimorados por IA. Na escola, muitas estão sendo ensinadas com materiais criados com ferramentas como o ChatGPT. Algumas estão até aprendendo ao lado de tutores-chatbots. No trabalho e na brincadeira, a IA está reconfigurando a infância . Ela promete a todas as crianças o tipo de criação que antes estava disponível apenas para os ricos, com tutores particulares, programas de estudos personalizados e entretenimento sob medida. As crianças podem ouvir músicas composta...

Porto dos Gaúchos – a cidade que nasceu desafiando a selva

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Quem viveu cinco anos no norte de Mato Grosso, como eu, acaba desenvolvendo uma curiosidade quase irresistível por Porto dos Gaúchos. A cidade sempre me pareceu um mistério: como foi possível fundar, em pleno coração da Amazônia mato-grossense, um povoado nos anos 1950, décadas antes da BR-163 (Cuiabá-Santarém) ou de qualquer infraestrutura mínima de sobrevivência? A resposta chegou em forma de uma obra monumental: um livro de quase 400 páginas organizado por Henrique Meyer, filho do lendário colonizador Guilherme “Willy” Meyer (falecido em 1994). Com a ajuda dos irmãos Ingrid e Neac Arigbátsa, Henrique reuniu fotografias, recortes de jornais, boletins da empresa colonizadora e relatos de época para contar, em detalhes impressionantes, a saga dos pioneiros que transformaram a Gleba Arinos em uma das cidades mais antigas e simbólicas do norte matogrossense. Trata-se de uma experiência de colonização privada e visionária, rara no Brasil. Em 1955, partindo de Santa Rosa (RS), Willy Meyer ...

Joy

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O relógio da parede marcava quase quatro da manhã quando Gabriela, enfim, deixou-se cair sobre o banco de veludo encardido do camarim do Bataclan. O vestido de lantejoulas prateadas, que horas antes reluzia como um céu de estrelas, agora parecia pesado demais, como se carregasse o peso de todas as noites que ela já dançara ali. A maquiagem escorria em fios negros sob os olhos; o rouge, borrado, dava-lhe um ar de boneca abandonada. Nos pés, as sandálias de cetim estavam rasgadas na sola — ela nem se lembrava de quando acontecera. O corpo doía inteiro, das coxas queimando até a nuca, que parecia presa num torno. Os coronéis tinham sido generosos aquela noite, como sempre. Flores, champanhe, notas gordas enfiadas no decote com dedos trêmulos de desejo. O coronel Narciso, o mais velho e o mais apaixonado, ficara até o fim, sentado na primeira fila, os olhos vidrados nela como se fosse a última mulher do mundo. Quando o espetáculo terminou, ele subira ao palco mancando, o chapéu na mão, e...

Cuiabá Santarém, O início.

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Revista Manchete nº 1.045 – 29 de abril de 1972 Nas páginas centrais, a grande reportagem tinha um título épico: “Cuiabá-Santarém: a estrada que abre o coração do Brasil adentro”. Fotografias impactantes mostravam picadas brutais na mata fechada, pontes precárias lançadas sobre rios imensos, operários queimando em febre, devorados por mosquitos e pela malária. Com orgulho ufanista, a Manchete celebrava a inauguração oficial da BR-163 como o grande símbolo do milagre econômico e da “integração nacional”. Sob o subtítulo triunfal “Do Planalto Central ao Amazonas em linha reta”, o texto enaltecia a obra do governo Emílio Garrastazu Médici, prometendo progresso, povoamento e riqueza sem fim para a Amazônia. Meio século depois, folhear novamente aquelas páginas é revisitar o auge do sonho desenvolvimentista – e, ao mesmo tempo, antever o altíssimo custo ambiental, social e humano que a rodovia efetivamente cobraria nos anos seguintes.