E assim se tinha acesso a “janelinha”





PLANTANDO DÁ, NÃO PLANTANDO DÃO


SERÁ QUE É MESMO A FALTA DE TERRAS, a causa do nossa miséria? O motivo de tanta agitação social? Vejam o que segue e tirem as conclusões.


1) - Viajando últimamente pelo Estado do Minas, todo,eu

"CHORAVA" no ônibus e no trem,ao ver tanta terra, tanta bica d'água, completamente a toa.

Em redor das choupanas dos nossos roceiros, nem 1 pé de couve, nem 1 pe de mandioca, nem 1 latada de xuxú, nada de nada.

Pelo contrário, meia dúzia de cacherros, que de tão magros, tinham que se encostar na parede para poder latir... Dez a doze gaiolas de passarinhos, dependuradas nas paredes.

Crianças a tôa, bares cheios. E no meio de tudo aquilo, daquela pre-

tensa pobreza, o RÁDIO e até mesmo, nalgumas casas a TELEVISÃO.

Chega o sábado, aquela gente (e gente pobre...) vai  comprar nas vendas aquilo que eles deviam vender: arroz, batatinha, toicinho, alface, couve, etc.


Vendo tudo aquilo. "EU CHORAVA" Aonde a Reforma agrária?

Tudo na mesma.

NÃO É TERRA QUE FALTA.

MAS SIM VONTADE DE TRABALHAR. Que o digam os que lidam na ASCAR. É duro lidar com gente que quer tudo de mãos beijadas.

Que espera tudo do governo:

Que não tem persistência para nada. Redondamente errado andou quem chegou a afirmar disparates como êste :

que apesar de tudo, o nosso melhor colono é ainda o caboclo...


Só podem dizer tanta asneira, aquêles que vivem entre quatro paredes, ou asfalto, ou nas quatro rodas de um Impala ou Gálaxie.

Mas que desconhece por completo, a triste realidade roceira.

Mais ainda, a triste mentalidade deste nosso caboclo.


Em certos livros de geografia, autores chegaram a dizer até isto: "que os rios, as nossas serras é que impedem progresso do Brasil". Impedem?

Pois ponham os rios e as serras nas mãos dos  colonos europeus o hão de ver que em 1 ano, colherão de tudo, lá onde nosso colono não colhe nem carrapicho... Toda esta gente desconhecedora da realidade roceira, antes de falar, de escrever, de criticar, deveria ir visitar o Brasil-Sul e ver as colônias européias do Vale do Itajai em Santa Catarina, onde alemão é mato... O vale do rio Taquary, Antas, onde italianos trabalham mesmo.

Então, os tais veriam as coisas e não iriam, com sua autoridade, tapear leitores e brasileiros com idéias falsas.


PLANTANDO, DÁ. NÃO PLANTANDO, DÃO... Eis aí outra face do nosso insolúvel mal social. Porque dão, ninguém quer plantar. Para que trabalhar no sol, na chuva, no calor, se basta a gente estender as mãos "por amor de Deus", “por amor da sogra", "por amor da defunta...


• Tal proceder pode ter seu mérito diante de Deus, mas não resolve, de forma alguma, o angustiante problema social roceiro ou mesmo, urbano.


Terras? Não faltam. O que falta é outra coisa, bem difícil de modificar. O pior de tudo isto, é muita gente a se revoltar contra o que escrevo, afirmando que prego o desânimo, o pessimismo, etc.

Não amigos: prego o realismo.

Quero um patriotismo de qualidades e de defeitos. E não

somente o balão ilusionário de uma falsa e perigosa auto-ficiência, que leva a cruzar os braços e a esperar que tudo caia do Céu ou dos Estados Unidos... Tá? A começar leite em pó, para a merenda escolar.


-Prof Vicente Barroso- Aparecida SP- Correio Rio-grandense 09/10/1968




 PAVIMENTAR ESTRADAS


Acabo de regressar de uma viagem jornalística pela zona considerada o Celeiro do Estado e cuja capital é Ijuí. Volto impressionado, terrivelmente impressionado com a incrível capacidade de trabalho daquela gente, sobretudo em referência à agricultura e à indústria. Observa-se aqui o fenômeno agrícola da Argentina: Viaja-se por centenas e centenas de quilômetros de terras inteiramente cultivadas de soja, no mesmo lugar onde há poucos meses nos deslumbrava a epopéia de ouro dos trigais.


Por lá encontrei os maiores armazéns graneleiros da América do Sul, com capacidade de quase um milhão de sacos de trigo. Os próprios vagões da viação férrea são fabricados em Ijuí. Os humildes colonos do interior são donos dos mais luxuosos carros — o Ford Galaxie.


A explosão econômica daquela zona foi tão violenta que o govêrno federal e estadual quedou-se abismado e autorizou o que certamente nenhum govêrno jamais autorizou: a construção de um pôrto marítimo pelos próprios agricultores.


Sim senhores, o fato é inédito em nossa história: a Cooperativa de Ijuí está construindo para ser utilizado em abril próximo um terminal marítimo perto do Cassino, em Rio Grande. Um autêntico pôrto de mar onde serão carregados navios de calado três vêzes superior aos que atracam no maior pôrto marítimo do Estado, podendo receber cinco mil sacos de cereal por hora. E, para não me alongar em citações de exemplos, vou dizer

apenas que o rendimento anual do município de Ijuí é de 1.200 dólares PER CAPITA.


E querem saber agora o que está acontecendo? Em tôda esta região, a região Celeiro do Brasil, não existe um palmo de estrada pavimentada. Em quase todos os municípios da região, em dias de chuva, o tráfego permanece interrompido, inteiramente interrompido como na floresta amazônica.


Mas na floresta amazônica, está sendo aberta uma estrada, uma estrada que absorve as atenções e as economias da Nação. Está certo: Vamos abrir a Transamazônica. Mas o que não está certo é que não exista caminho para escoamento dos mais numerosos e valiosos produtos do Brasil.


Fala-se que dentro de cinco anos o asfalto chegará a esta região. Mas cinco anos hoje, são 50 anos antigos. Aquela gente não pode esperar tanto tempo. Nem cinco, nem quatro, nem três, nem dois anos. Dois anos são vinte anos. O asfalto deve chegar a Ijuí e a tôda região tritícola dentro de um ano.


Impossível? Ora para quem em poucos meses constrói um pôrto marítimo, pavimentar uma estrada parece brincadeira.


O sr. Ministro Andreazza, o sr. Governador Triches, os quais, como o fenomenal presidente da COTRIJUÍ, sr. Luiz Fogliato, trazem nas veias o heróico sangue romano, saberão com certeza dar solução ao problema.


Assim como o govêrno autorizou a construção de um terminal

marítimo por uma cooperativa, pode muito bem conceder a uma emprêsa particular autorização para pavimentar estradas, dando-lhe o direito de cobrar pedágio.


- Fidelis Dalcin Barbosa - Correio Rio-grandense 20/02/1971








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