Os Odebrecht

Entrevista com EMÍLIO ODEBRECHT (Folha de S. Paulo)
28/01/2008


Lula nunca foi de esquerda e país vive seu melhor momento
Empresário baiano defende que sucessor do presidente seja um gestor e cita os nomes de José Serra e Dilma Rousseff; para ele, os Estados Unidos não devem entrar em recessão, mas, caso ela venha, “todos vão sofrer, inclusive o Brasil”.






APESAR do pânico nos mercados na última segunda, o empresário Emílio Odebrecht, 63, chega para a entrevista num restaurante de Salvador vestindo blazer, sem gravata e sem sinal de preocupação. “Não acredito em recessão nos EUA, mas, se vier, será problemático. Todos vão sofrer, inclusive o Brasil”. Otimista, ele acha que o país vive hoje o melhor momento da história. Uma das razões citadas é o fato de Lula, seu conhecido desde 1992, ter mantido a mesma linha dos governos anteriores, o que não foi surpresa para ele. “Lula nunca foi de esquerda”. Para sucessor do presidente, defende um gestor e citou os nomes de Dilma Rousseff e José Serra. Ao final das mais de duas horas de entrevista, ele se despediu e saiu do restaurante dirigindo o próprio carro.


FOLHA – Qual é sua função hoje no grupo?

EMÍLIO ODEBRECHT – Desde 2001, quando fizemos uma mudança organizacional no grupo e definimos o papel da família, eu estou concentrado no Conselho de Administração [ele preside o conselho]. A minha principal função hoje tem sido a de ajudar a nova geração para que ela efetivamente assuma o comando do grupo, sob todos os aspectos, seja operacionalmente, seja empresarialmente, seja estrategicamente ou seja politicamente. Basicamente é essa minha função hoje, além das responsabilidades inerentes do conselho, como as decisões de novos investimentos, mas a minha atuação principal tem sido a de dar a esses jovens as condições para eles exercerem o negócio na sua plenitude. Nos próximos dois anos, todas as decisões do grupo passarão a ser tomadas por esses jovens.


FOLHA – O seu filho Marcelo, que já está à frente da engenharia, irá assumir o comando do grupo?

ODEBRECHT – A sucessão já está definida dentro do grupo. Nos próximos cinco anos, não mais do que isso deve ocorrer à mudança final [Marcelo assumir o comando do grupo]. Mas isso só acontecerá no momento em que eu e Pedro Novis [que hoje é o comandante do grupo na área operacional] acharmos que Marcelo já reúne todas as condições para isso. Enquanto isso, Novis tem um acordo comigo de terminar de formar o Marcelo. O Novis é um companheiro meu desde o início. Nós temos 42 anos de convívio, além de uma relação de amizade anterior a isso.


FOLHA – Depois de definido esse passo, o que o sr. pretende fazer?

ODEBRECHT – Pretendo me dedicar à Kieppe [a holding que controla a Odebrecht], que é a nossa empresa familiar, aos programas de investimentos na fazenda, aos meus outros filhos, meus netos e ao meu negócio de criação de pacas. Nós temos hoje o maior criatório de pacas do Brasil. Eu gosto muito de tudo o que é ligado à natureza, com fazenda, por exemplo. Eu montei um programa de criação de pacas e tenho me dedicado bastante a isso


FOLHA – Por que o sr. fez essa opção de se afastar do dia-a-dia do grupo?

ODEBRECHT – A melhor forma que eu posso contribuir para a organização é não estar atrapalhando internamente o seu dia-a-dia. Se eu ficar presente, se eu começar a cobrar atividades, eu vou atrapalhar a empresa. O que eu tenho de cobrar são resultados. Os líderes de uma organização precisam se preocupar em contribuir para o país, contribuir com as políticas públicas. Tenho procurado investir muito nisso. Tenho trabalhado muito no que precisamos fazer para construir um país melhor. Um país que cresça e melhore qualitativamente também vai ajudar a melhorar as condições do nosso pessoal.


FOLHA – Hoje, o maior negócio do grupo é a petroquímica?

ODEBRECHT – Do ponto de vista de ativos físicos, ativos tangíveis, é a petroquímica. Ela ocupa mais espaço. A área de engenharia tem hoje mais de 50 mil pessoas, 70% desse pessoal no exterior. São mais de 35 mil pessoas no exterior, e na área petroquímica o total de funcionários não chega a 8.000. Agora, a petroquímica tem um patrimônio muito maior e fatura o dobro da engenharia. Deve faturar cerca de R$ 15 bilhões aproximadamente, e a área de engenharia, uns R$ 7 bilhões.


FOLHA – E a terceira área de investimento da Odebrecht, o álcool?

ODEBRECHT – A área de álcool só vai começar a ter faturamento significativo dentro de três anos.


FOLHA – Como foi a decisão de a empresa partir para o exterior?

ODEBRECHT – Isso foi na época do milagre econômico brasileiro, quando nós percebemos que aquele crescimento brasileiro, diferentemente do de hoje, não era auto-sustentado. A nossa preocupação era dar continuidade ao crescimento, dar vazão a tudo o que tínhamos construído. Foi isso que fez a gente repensar na década de 70, precisamente em 74 e 75, a nossa atuação e foi quando definimos os dois novos grandes programas, o da internacionalização e o da verticalização dos investimentos em outras áreas, entre elas a petroquímica. Depois decidimos nos concentrar na petroquímica.


FOLHA – No ano passado, o grupo se incomodou com o avanço da Petrobras na área petroquímica. Chegou a se falar em ameaça de reestatização do setor, quando a Petrobras comprou a Suzano Petroquímica. Essa ameaça foi afastada definitivamente?

ODEBRECHT – Esses altos e baixos da Petrobras são fantásticos, mas isso faz parte. Eu diria que houve um avanço significativo. A reestruturação do setor é uma realidade com a definição dos pólos do Centro-Sul, do Sul e do Norte, que está conosco. A Unipar com um e nós com o outro, com a saída da Suzano. A Petrobras é o mal necessário para nós, Braskem, porque ela não nos acomoda. Vamos buscar agora conquistar oportunidades no exterior com a Petrobras. Estou buscando direcionar a energia da organização para isso. A energia da organização antes estava voltada para conviver com essas idiossincrasias da Petrobras. Quando menos se esperava, a Petrobras vinha com a ameaça de reestatização. Era contínuo.


FOLHA – A Petrobras não atende uma vontade do governo com essas ameaças de reestatização?

ODEBRECHT – Não, sempre foi assim. Está inserido no DNA da Petrobras.


FOLHA – Como o sr. enxerga este momento do Brasil? O sr. disse que, na época do milagre, diferentemente de hoje, o Brasil não viveu um ciclo de crescimento sustentado.

ODEBRECHT – Eu considero que, hoje, vivemos realmente um ciclo de crescimento sustentado. As bases, os fundamentos da economia nos dão essa conscientização de que isso é uma realidade. Lógico que há algumas preocupações, mas eu diria que estamos muito menos vulneráveis externamente e internamente do que no passado. Nós quebramos um tabu enorme, que era a chegada de um presidente da esquerda e, mais ainda, um líder dos trabalhadores, e esse tabu não existe mais. O investidor estrangeiro sempre perguntava como se comportaria o Brasil com um presidente com esse perfil de esquerda, com essa ideologia, e veja o que aconteceu. Foi a melhor coisa que poderia ter acontecido para o nosso país, sem dúvida nenhuma. O investidor estrangeiro viu que os contratos foram preservados, que a linha ideológica, ao contrário, é até mais rígida, em determinados aspectos, do que a dos anteriores. O Brasil tem mais consistência e inspira outro nível de confiança ao investidor. Essa quebra de tabu tranqüilizou os investimentos, e o que se viu é que esse governo não tem nada de esquerda. O presidente Lula não tem nada de esquerda, nunca foi de esquerda.


FOLHA – Mas muitos empresários temiam o Lula?

ODEBRECHT – O empresário muitas vezes pressupõe alguma coisa sem nenhum grau de conhecimento. O sujeito não convive e fica pressupondo. Eu conheço Lula desde 1992, quando tive o prazer de ser apresentado a ele pelo governador Mário Covas. Ele via o presidente Lula como um homem com potencial futuro e, como ele tinha muito bom relacionamento conosco, acreditava muito na gente, apreciava a nossa filosofia, ele achava que essa aproximação seria útil para os dois e para o país. Foi Mário Covas quem nos aproximou.
Foi uma relação extremamente gratificante porque eu tenho certeza que aprendi muito, a organização aprendeu muito, e ele e os companheiros dele que tiveram a oportunidade de conviver conosco também aprenderam bastante, tenho certeza. O empresário não tinha convivido com ele e por isso tinha uma imagem errada dele. Agora, ele não é “menino amarelo” [expressão que significa ingênuo, inocente]. Ele sabe perfeitamente o que quer e a estratégia para conseguir o que quer. Muitas vezes ele aparenta ser um pouco bobo, inocente, mas o “menino amarelo” de inocente não tem nada.


FOLHA – Lula é um pragmático?

ODEBRECHT – Sem dúvida nenhuma, e sabe conviver com Deus e todo mundo, com gregos e troianos. Ele tem um senso crítico, uma intuição que poucos têm. Agora, o sucessor do Lula precisa ter um perfil de gestor, mas que mantenha os conceitos e os fundamentos de hoje.


FOLHA – A ministra Dilma Rousseff poderia ser esse nome?

ODEBRECHT – Pode ser, essa é uma gestora. É o perfil dela.


FOLHA – E o governador de São Paulo, José Serra?

ODEBRECHT – Serra é outro. São pessoas que têm o viés de gestão muito forte. Nós estamos precisando de um gestor público, que não é o caso desses todos que passaram pelo governo até agora. Nenhum deles. O novo ocupante do cargo deve criar as condições para o setor produtivo funcionar.


FOLHA – E Ciro Gomes?

ODEBRECHT – Não vejo. Vejo Ciro mais próximo de Serra e de Dilma.


FOLHA - Qual o melhor governo? Este ou o de Fernando Henrique Cardoso?

ODEBRECHT - São coisas diferentes. Eu diria até que são governos complementares. O atual governo deu continuidade a muitos programas do anterior.



FOLHA – Como o senhor vê esse terremoto que abalou o mercado financeiro?

ODEBRECHT – Estou muito confiante. Apesar desse tumulto todo, eu não acredito, sinceramente, em recessão nos EUA, principalmente em ano eleitoral. Recessão nos EUA seria um negócio muito problemático. Seria uma bola de neve que iria atingir o mundo inteiro.


FOLHA – O Brasil sofrerá muito?

ODEBRECHT – Sofre, claro, mas esses US$ 180 bilhões de reserva deixam o Brasil numa situação muito confortável. Além do mais, o mercado consumidor brasileiro é invejável. Não é por acaso que todo esse pessoal de fora vem para cá investir. Apesar de tudo o que ocorreu, o risco-país se mantém no mesmo patamar, com pouca variação. Eu não tenho receio. Agora, contudo, não vamos ficar autoconfiantes e deixar as coisas acontecerem.


FOLHA – A Odebrecht está revendo algum plano de investimento em razão da crise?

ODEBRECHT – Não, e não vejo nenhuma perspectiva de que isso possa acontecer. Hoje, você toma decisões de longo prazo de forma consciente e com muita tranqüilidade, diferentemente do passado. Mesmo na época do milagre brasileiro, havia abundância, nós crescemos muito, mas tínhamos consciência de que teríamos um problema lá na frente. Hoje, não. Veja esse problema do câmbio, da apreciação do real. O empresariado critica esse problema, e acho até que o governo tinha a obrigação, para determinados setores, como o setor calçadista, de encontrar uma saída, mas, para a maioria dos setores, isso deveria ter sido visto como uma oportunidade para ir para fora, partir para novos investimentos no exterior. Desde o início do governo Lula, quando o câmbio começou a se deprimir, a gente vivia batendo nessa tecla. A minha conversa com Jorge Gerdau [presidente do conselho de administração do grupo Gerdau] sobre isso foi profunda.


FOLHA – Por que o empresário não investe fora do Brasil?

ODEBRECHT – O empresário brasileiro é extremamente criativo e competente, mas muito conservador. Não é de assumir riscos, e ir para o exterior é assumir riscos, principalmente quando não se está preparado. O nosso início no exterior foi muito penoso. Hoje, a gente trabalha no exterior como se estivesse trabalhando aqui. Os empresários, os executivos e as empresas como um todo precisam romper esse ciclo psicológico. Foi isso que nós procuramos fazer. O nosso plano para a petroquímica, por exemplo, definiu três grandes investimentos no exterior: Venezuela, Angola e Bolívia. São países problemáticos, mas as grandes oportunidades estão aí.


FOLHA – Mas o sr. não tem receio de enfrentar problemas lá na frente nesses países? A Petrobras enfrenta dificuldades na Bolívia.

ODEBRECHT – Não existe esse risco para o Brasil. Quem lê nos jornais os problemas do Chávez com os Estados Unidos e com o mundo, de um modo geral, sem dúvida nenhuma vai achar que esse investimento será um risco imenso, mas não existe esse risco para o Brasil. A Venezuela não é risco para o Brasil. Nenhum país da América Latina tem condições de sobreviver a curto, médio e longo prazos sem o Brasil. O Brasil é o grande mercado consumidor deles. O que a Petrobras precisa é saber trabalhar nesses países.


FOLHA – Onde a Petrobras errou?

ODEBRECHT – A Petrobras é extremamente competente. A competência talvez até os atrapalhe quando lidam com esses países mais carentes. O problema é não se integrar na sociedade. Nós estamos e continuamos trabalhando na Bolívia. Tivemos algum problema lá? Nenhum. Nós temos um programa de investimento na área de transporte que hoje é de mais de R$ 300 milhões. Se você não tiver a preocupação de se integrar àquela sociedade, compreender os seus problemas, vai ter dificuldades. Também na Venezuela não enfrentamos nenhum problema. E nós estamos lá com um projeto de mais de US$ 8 bilhões. Você tem que se integrar ao país, ajudar o país a resolver os seus problemas. É a única forma de crescer com ele. Ele cresce e você também. A Petrobras não faz isso. Veja só, na Odebrecht, cerca de 90% dos nossos colaboradores que trabalham fora do Brasil são locais. Quando chegamos a Angola, não havia carpinteiro, pedreiro, motorista, não tinha nada. Nós tivemos que formar esse pessoal, treinar esse pessoal. No início, tínhamos mais brasileiros trabalhando em Angola, mas hoje é só angolano.


FOLHA – A África é uma boa oportunidade de investimento?

ODEBRECHT – É, mas com uma visão de longo prazo e com a consciência de que você tem de ajudar a construir o seu próprio mercado consumidor. Hoje, nós temos um faturamento em Angola de mais de US$ 900 milhões em setores como diamante, mercado imobiliário, mineração, petróleo e outras áreas.

FOLHA – A indústria aproveitou esses tempos de bonança?

ODEBRECHT – Determinados segmentos sofreram muito, mas a grande maioria se saiu bem, mas igual ao setor financeiro é difícil. Ganhar dinheiro da forma que eles ganharam nos últimos 30 anos é incrível, e sem investir no setor produtivo. Eles investiram pouco no setor produtivo. Tiraram todos os ganhos provenientes do setor e não investiram. Não tiro o mérito deles. Incompetentes fomos nós e o governo.



FONTE: http://www.federici.com.br/site/materia_meio.php?id_ementa=33


Lembrando que já eram a maior empreiteira do país desde 1997, conforme cronologia abaixo:







Epílogo: E conforme palavras do Emilio:

Toda imprensa sabia...





https://www.youtube.com/watch?v=gnOimxs5hzc














O empresário Emílio Odebrecht afirma em livro lançado neste mês que as delações premiadas dele e de outros executivos de empreiteiras foram obtidas sob coação na Operação Lava Jato.

Na obra, Emílio sustenta que os repasses a políticos feitos pela empresa que levava o nome de sua família (agora chama-se Novonor) eram recursos de caixa dois eleitoral, entre outras teses de defesa jurídica apresentadas. O livro intitulado "Uma Guerra contra o Brasil: Como a Lava Jato Agrediu a Soberania Nacional, Enfraqueceu a Indústria Pesada Brasileira e Tentou Destruir o Grupo Odebrecht", escrito em primeira pessoa, também traz as posições dele sobre temas econômicos.

Boa parte da obra é dedicada a relatos sobre a história da família do autor e de suas companhias, nos quais faz uma louvação aos feitos obtidos pelo grupo empresarial. O autor abre a obra descrevendo o dia em junho de 2015 em que a Odebrecht e outras empreiteiras foram alvo da 14ª fase da Lava Jato, e seu filho Marcelo, que presidia a companhia, foi preso.

Emílio relata então a batalha jurídica que enfrentou e diz que uma "fábrica de delações" foi montada pelo então juiz Sergio Moro (eleito senador em 2022) e pela força-tarefa de procuradores do Ministério Público Federal em Curitiba, à época comandada por Deltan Dallagnol (atual deputado federal).
Nas discussões para o fechamento dos acordos de delação, aqueles que não tivessem suas declarações consideradas importantes poderiam acabar sendo alvo de prisões e processos, segundo o empresário.

Ele firmou o acordo de colaboração em 2016. Chegou a ser condenado em sentença anulada posteriormente, mas não foi preso em decorrência da operação nem antes nem após a delação. "O que mais atemorizava cada um de nós era ficar fora do acordo final, porque nossa vida se transformaria em um inferno. Era o que os promotores prometiam", escreve.

"Nesse ambiente, ameaçados, pressionados, submetidos a quase insuportável sofrimento físico e mental, poucos conseguiram resistir a determinações como essa: 'Você está aqui voluntariamente e quero que fale de fulano e sicrano'. Os procuradores apontavam o dedo e não tinham limites."De acordo com o autor, essa conduta dos procuradores levou parte dos delatores a admitir a prática de crimes de corrupção em relação a atos que, na verdade, configuraram doações a políticos ou partidos.

"Como jamais fizemos doações para partidos ou candidatos barganhando contrapartidas, eles próprios [procuradores] encontraram a solução: 'Você, colaborador, assume que a contrapartida é que, no futuro, o candidato pode se tornar um político importante, com poder, e você terá influência sobre ele'. E foi desse modo que em centenas de relatos este texto se repetiu", afirma.

A obra traz a explicação de Emílio sobre a estrutura montada pela empreiteira para fazer repasses a políticos, que foi chamada de "departamento da propina" pelos procuradores."O que existiu foi um sistema de geração de recursos não contabilizados, o popular 'caixa dois'", afirma.

O empresário admite que a prática é ilegal, mas diz que ela é habitual no mundo empresarial. "Não sejamos hipócritas: desde a invenção do capitalismo, é comum empresa média ou grande manter pelo menos 1% de seu faturamento ali alocado. Não é certo, mas assim é, e serve para atender contingências inesperadas."

O autor aponta então as finalidades que a estrutura teve na Odebrecht: pagamentos em espécie a fornecedores, especialmente em zonas de conflito; repasses incomuns, como resgates de funcionários em casos de sequestros (diz que nos últimos 30 anos ocorreram 11 situações como essa, em "países de alto risco político e social"); remuneração de executivos por desempenho ou atuação em circunstâncias especiais e contribuições para campanhas políticas.

 Emílio, 78, também aborda o fato de a Odebrecht ter bancado a reforma no sítio em Atibaia (SP) que era frequentado pelo presidente Lula (PT), mas não revela o motivo pelo qual autorizou as obras. O empresário repete depoimentos dados às autoridades ao afirmar que o pedido para que a empreiteira fizesse a reforma no sítio partiu da então primeira-dama, Marisa Letícia, e nega que tenha praticado crime no episódio.

"Lula deixaria a Presidência no final daquele ano [2010] e meu gesto não estava vinculado a qualquer agradecimento ou expectativa de retribuição futura. Dali a alguns dias o governo seria outro", escreve.
Na parte final do livro, o autor defende as teses de que "a Lava Jato quebrou a economia brasileira" e que tal situação contou com a orientação de autoridades dos Estados Unidos, com a finalidade de prejudicar empresas brasileiras que ofereciam concorrência a companhias americanas à época.

Sergio Moro e os procuradores da Lava Jato sempre negaram ter conduzido de forma ilícita as delações, processos e investigações da Lava Jato, mesmo após o STF (Supremo Tribunal Federal) ter anulado parte das ações ao julgar que o ex-juiz atuou com parcialidade nas causas.
(FLÁVIO FERREIRA/FOLHAPRESS)


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